Jesus, o Advogado:
Uma Visão Jurídica à Luz do Evangelho de João
A Bíblia apresenta diversas imagens e títulos atribuídos a Jesus Cristo, como Salvador, Cordeiro, Mestre, Pastor, Rei e muitos outros. No entanto, uma figura pouco explorada, mas extremamente rica em significado, é a de Jesus como Advogado. O apóstolo João, conhecido por sua profundidade espiritual e precisão teológica, apresenta essa dimensão em sua primeira epístola e fundamenta um paralelo com a linguagem forense. Neste artigo, exploraremos a atuação de Jesus como Advogado sob uma perspectiva jurídica e espiritual, com base na teologia joanina.
1. A Linguagem Jurídica no Evangelho e nas Epístolas de João
1.1. O Tribunal Celestial
A concepção bíblica do juízo divino frequentemente remete a um tribunal, onde Deus é o juiz justo, o ser humano é o réu, Satanás o acusador, e Jesus Cristo, o Advogado da defesa.
1 João 2:1
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.”
A palavra grega usada para “advogado” é parakletos, que significa “alguém chamado para estar ao lado de outrem”, especialmente em um tribunal, como um defensor legal.
1.2. O Acusador no Processo Divino
Apocalipse 12:10
“...porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite.”
Satanás atua como acusador legal, apresentando as falhas do homem diante de Deus. Nesse contexto, a presença de Jesus como nosso Advogado é essencial para a absolvição.
2. Jesus como Advogado: Atuação Forense e Espiritual
2.1. Defesa Baseada em Justiça
Diferente de um advogado humano que muitas vezes defende culpados com base em brechas legais, Jesus não nega a culpa do pecador, mas assume a penalidade em seu lugar.
Isaías 53:5
“Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”
2.2. Advogado e Fiador
Jesus não apenas defende, Ele paga a dívida. Ele é o substituto legal que satisfaz a exigência da Lei e reconcilia o homem com Deus.
Hebreus 7:22
“De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador.”
3. Os Elementos do Processo de Justificação
3.1. O Réu: A Humanidade Culpada
Todos pecaram e, por isso, todos estão legalmente sob condenação diante da Lei de Deus.
Romanos 3:23
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.”
3.2. O Juiz: Deus Pai
Deus é justo e não pode inocentar o culpado sem que a justiça seja satisfeita.
Salmos 89:14
“Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade irão adiante do teu rosto.”
3.3. O Advogado: Jesus Cristo
Cristo intercede como defensor do homem, com base em Seu próprio sacrifício.
Hebreus 9:24
“Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus.”
3.4. A Prova de Defesa: O Sangue da Cruz
A base da defesa de Cristo é o Seu sangue derramado, que fala mais alto do que qualquer acusação.
Hebreus 12:24
“E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.”
4. O Veredito: Justificação
4.1. A Absolvição do Crente
A sentença para aquele que crê é justificação — uma declaração legal de inocência, baseada no mérito de Cristo.
Romanos 5:1
“Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.”
4.2. Nenhuma Condenação
Com Cristo como Advogado, não resta condenação para os que estão n’Ele.
Romanos 8:1
“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
5. A Atuação Contínua do Advogado no Céu
Jesus não apenas advogou por nós na cruz; Ele continua intercedendo por nós no céu.
Romanos 8:34
“Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.”
A função de Advogado é permanente e ativa, garantindo segurança eterna aos salvos.
Conclusão: O Direito da Graça
Na linguagem dos tribunais, Jesus é o Advogado que, com base em Sua justiça, assegura ao pecador arrependido o direito da graça. João, ao apresentar Cristo como Advogado, nos revela que o Evangelho não é apenas um ato de amor, mas também um ato de justiça plenamente satisfeita.
Com Cristo como nosso Defensor, o tribunal de Deus deixa de ser um lugar de medo e passa a ser um lugar de reconciliação. Não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque temos um Advogado que nunca perde uma causa quando a defesa é sustentada por Seu sangue.
Pr. Márcio Peixoto
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